segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A Mosca


No aeroporto Schiphol, em Amsterdão, foi diagnosticado um problema orçamental curioso: estavam a ser despendidas verbas demasiado avolutadas em produtos e serviços de limpeza nos quartos-de-banho masculinos. Tudo uma questão de falta de pontaria. O que se passaria para que os sujeitos, naquele quarto-de-banho em particular, não conseguissem direccionar a urina com a mesma precisão para um buraco de dimensões semelhantes aos do resto do mundo, era um mistério.

Foram adiantadas duas causas para o fenómeno: para começar, tratando-se de um aeroporto, os utilizadores estavam muitas vezes demasiado apressados para se preocuparem em mirar com precisão. Por outro lado, temos um factor daquele aeroporto específico: muitos dos quartos-de-banho tinham uma janela com vista para a pista de aterragem e descolagem, pelo que a distracção provocada pelos aviões impedia a concentração na coordenação e orientação da urina para o orifício destinado ao efeito.

Identificado o motivo de tantos derrames urinários, procedeu-se à implementação de uma brilhante medida: foram colocadas moscas de plástico em todos os urinóis e sanitas do aeroporto. Foi remédio santo. Todos os homens que outrora se distraíam com o tráfego aeronáutico e espalhavam a urina pelo chão e pelas paredes estavam agora entretidos com um jogo que todos os homens do mundo apreciam jogar: o de derrubar, com o jacto de urina, qualquer coisa numa retrete que não seja porcelana.

Este é um exemplo paradigmático de como funcionam os instrumentos políticos comportamentais. Para se resolver o problema, não se impuseram regras, nem se pagou dinheiro a quem não mijasse de fora. Não se optou por incentivos autoritários, regulamentares ou financeiros. Antes, jogou-se com o instinto humano. Pegou-se no conhecimento das atitude dos machos de todo o mundo e adaptaram-se as circunstâncias ao homem, e não o contrário.

Este tipo de instrumentos é, porventura, o mais perigoso. É o mais suave mas, por ser deveras dissimulado, é indetectável. Mais do que isso: podemos contornar regras, abandonar o país ou destituir governos. Mas não podemos fugir de nós próprios e do instinto de mijar sobre as moscas.

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