Troca de cartas entre um adepto da Académica e Alexandre Pais (director do Record).
Esta ausência de sintonia entre o que deve ser e o ter de ser por consequência de
motivos de ordem económica é um dos paradigmas actuais mais preocupantes do e para o
pensamento de uma sociedade. A situação apresentada que antecede este comentário é
um caso concreto de uma publicação periódica desportiva, mas é apenas um pequeno
reflexo de algo que é evidentemente endémico na comunicação social portuguesa. E não
só. Essa dominação “editorial” – e consciente - encontra-se também na
televisão, no cinema, na rádio, especialmente na música, e até, em determinada
medida, na literatura. Facilmente dir-se-á que é uma perversão económica na procura pelo
lucro; naturalmente, embora distante de ser esse o problema. A agrura é que deriva da,
esta sim, perversão do bom-gosto, de uma mentalidade maioritária que
determina grandemente os conteúdos das várias dimensões referidas, por
estes serem os seus predilectos. E aqui há nova derivação: isto implica naturalmente
uma produção de conteúdos para ir de encontro a essa procura, isso é-nos a todos
suportável, o maior prejuízo é a necessidade da mais que visível subversão daquela que deveria ser
a sua hierarquia e proporção na oferta.
Divido-me entre a simpatia pelo João Oliveira e a compreensão da opção
pragmática de Alexandre Pais. Do mais, resta retirar que muito do que se pensa
depende inevitavelmente no que se pensa e ao que se acede, bem como que uma
sociedade pode ser caracterizada por aquilo que prefere. Todavia, pouco há mais que se possa fazer.
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